segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Goulache de Ano-Novo

Sei que já está um pouco tarde para falar de ceia de virada de ano, e talvez fosse até melhor esperar o fim deste aqui para deixar o assunto mais pertinente. É o que fazem muitas revistas de comida, pelo menos. Mas não tenho esta obrigação, ainda bem, então vou falar mesmo atrasado.

Cheguei à Alemanha no dia 31 de tarde. Acabado, claro, e morrendo de medo do frio. O trem saindo de Frankfurt, um vermelhão velho cujas portas quebradas fechavam em cima das pessoas, cruzou por umas três horas os cenários de contos de fadas que eu revia um atrás do outro na cabeça. Tanta neve. Na chegada a Bonn, eram quase seis da tarde e eu já sonhava com a ceia de Ano-Novo. No dia anterior, o menino tinha me perguntado o que eu queria: respondi grosso que ele devia pensar sozinho, pois tinha tempo de sobra e eu precisava trabalhar. Depois de ficar bravo, falar que eu ia comer Cup Noodles, não tocou mais no assunto. Daí que eu não tinha ideia do que seria minha última refeição de 2010.

Dito assim até parece dramático. "Última refeição de 2010". Não é pra ser, não, só queria uma comida boa, com cara de Alemanha, para predizer os nove dias de comilança seguintes.

A ceia: goulache de pimentão acompanhado de batatas, cervejas (pilsen, de trigo...), sorvete de Baileys. Nada assim, tão diferente, exceto por um ponto crucial: as batatas tinham sido cozidas só com sal (ele ligou pro pai para confirmar se só isso mesmo) e deveriam ser amassadas no prato de servir (!!), com o garfo, e depois misturadas ao molho aconchegante do goulash. Não era a primeira vez que eu usava batatas no lugar de arroz...Mas assim, sem ser purê nem nada, na seca?

Os goulaches que eu tinha comido eram primos do estrogonofe, mas esse tinha uma cara mais de carne cozida brasileira, mas tingido com o vermelhão da páprica. O creme de leite tinha de ser misturado direto no prato, veja só. A carne para goulache tinha acabado no supermercado, então ele comprou uma outra que ficou meio farinhenta. Mas tava bom, mesmo, o suficiente para completar o vazio de seis meses de distância.

Bebi várias garrafas de cerveja e caímos no sono às dez da noite. Acordei um pouco com os fogos, fui ao banheiro e, sei lá por quê, desmaiei. Pela primeira na vida. Retomei a consciência com o gosto da cerveja e do pimentão na boca. Voltei para a cama e dormi, receoso de que as batatas tivessem me causado algum revertério maluco. Mas não era nada, não.

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