quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

No Rio, faça como os japoneses


É difícil trabalhar no Rio. O mar e o céu cheio de sol te torturam, dizendo que você é um idiota por estar dando duro quando se tem tanta coisa boa para fazer. Foram cinco dias de trabalho intenso, deslizamentos, histórias tristes, equipamentos pesados e lama. E para lembrar a beleza que existe, só uns minutinhos: os da janta.

Minha companhia eram dois japoneses, uma delas minha chefe, que é fã de picanha. Ela disse que é a única coisa realmente gostosa que comeu até agora no Brasil. Não é a primeira vez que ouço isso de um japonês. Eles geralmente não entendem por que a gente gosta de feijão e farofa, mas entendem rápido a mágica de um pedaço de picanha ainda rosado no centro, com um filetinho de gordura do lado, os sucos brilhando conforme a faca passa.

Daí que comemos picanha três vezes. Duas numa churrascaria ótima, em Copacabana, e a terceira no bar Garota de Ipanema, lugar-comum da turistada que baixa em Ipanema. Nesse último a carne veio fumegando na chapa de ferro com réchaud, e você mesmo tem que terminar de grelhar. Comendo aquilo, fica difícil entender por que outros países têm contra-filé, filé mignon, mas não têm picanha. Talvez porque a picanha só atinja a transcendência quando é feita como churrasco, temperada com sal grosso, e não é assim que os outros países preparam a carne.

Cruel é mostrar o resultado de disso tudo na praia depois, ali a duas quadras dos restaurantes. Ai, o Rio é uma tortura constante.

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