sábado, 15 de janeiro de 2011

Cozinha de improvisos

Tá, todo mundo tem direito em sonhar com uma daquelas cozinhas cheias de tudo, frigideiras múltiplas penduradas na parede, faca desenhada com cuidado para não esfarelar os pães da Sicília (como serão eles?), máquina para cozinhar o rosbife em baixíssima temperatura e deixá-lo perfeito. Mas a realidade doída é que na cozinha de facto falta tudo, às vezes até o mais básico, a depender dos rendimentos da casa.

Eu, por exemplo, uso uma mesma faca para quase tudo. Me dou ao luxo de ela ser de cerâmica, bonitinha, comprada no Japão. Mas bem posso pensar que à família dessa pertenciam trocentas outras que não pude comprar e que sorriram para mim na loja, dizendo "me leve, me leve".

O mesmo acontece com as panelas. Hoje fui fazer um molho à bolonhesa, delícia, que está agora lá no fogo. A receita pedia uma panela de fundo grosso, pois precisa deixar cozinhando por três horas (deixarei só duas porque preciso sair). Cadê? Revirei, revirei, e só achei aquelas de fundo bem fininho, feitas para refogar o quiabo em cinco minutos. Daí apelei: estreei uma wok de ferro que comprei estes dias.

O fundo era grosso, então por que não? O princípio dessa panela é refogar em alta temperatura, que é como se fazem pelo menos metade dos pratos chineses. Mas existe uma exceção: um porco cozido por horas, um dos meus pratos favoritos na vida, que é feito justamente na wok. Se cozinha porco, por que não cozinharia molho italiano? Tá, sei que não é tão simples, mas na lógica da cozinha do dia-a-dia é assim que funciona. Você pensa: "se X serve para Y, e Y se parece com Z, então X serve para Z". O problema é a subjetividade do "parece" - em que medida uma receita chinesa de porco cozido é semelhante a um molho à bolonhesa?

Às vezes dá certo, às vezes você se ferra. Desta vez ainda estou esperando para ver. Enquanto isso, posto a foto do casamento inesperado.

Um comentário:

NU AHASO disse...
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