quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Comer

Quando eu era pequeno, lá pelos 11 anos, queria muito saber jogar futebol. Impossível. Aos 13, queria tocar piano. Não deu. Aos 14, me imaginava um literato, aos 15, filósofo, com 16, tinha certeza que daria um bom psicólogo. Nada, nada, nada. Então me imaginei, já na faculdade, um homem de poder e grana. Foi tudo pelo cano. Decidi, então, ser um acadêmico prestigiado, daqueles que publicam livros pelo MIT ou Harvard ou qualquer uma dessas. Mas...Ai, que preguiça.

Daí que, por uma ocasião do destino, descobri que adoro cozinhar. Juntar isso com aquilo, jogar na panela e ver no que dá. Passar dezenas de minutos no supermercado, babar em cima de livros de receitas. Opa, isso não é novo - lá pelos 7 anos, a curta coleção de almanaques do tipo "como cozinhar" da minha mãe eram tão divertidos quanto os livrinhos da série Vagalume. Nas férias, eu folheava todo santo dia aquilo, e isso deve ter acontecido até pelos menos uns 11 anos de idade.

Como diz um amigo meu que gosta de tirar fotos - "não sou um bom fotógrafo, tiro muitas fotos até achar uma que preste". O mesmo vale para mim. Faço N coisas horríveis, que não servem nem para adubar a terra. Aí, no meio dessas, surge algo que me faz devorar o prato em cinco segundos (é, daquele jeito). Tampouco tenho técnicas sofisticadas, ou jeito para cortar, picar, coordenar panela, forno, faca. Sou desastrado, derrubo tudo, não consigo deixar um mísero cubo de abóbora igual ao outro. Doces, nem pensar - fica parecendo obra da Bienal. Fora esquecer de salgar, temperar, pôr isso ou aquilo.

Resultado: não sou nada disso que mencionei três parágrafos atrás e também não sou um bom cozinheiro. Só descobri algo que gosto muito de fazer - como nada mais nesta terra - e queria não esquecer do que "inventei", aspas redobradas, já que provavelmente coisas muito parecidas devem estar em algum canto do mundo. Além disso, já que Borges é muito melhor que eu e sobra gente pensando nestes tempos, por que não dividir um humilde compilado de receitas?

Resolve qualquer tristeza, angústia, melancolia, depressão. As minhas, pelo menos, foram resolvidas assim.

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